De todas as criações de Charles Schulz, nenhuma me foi tão marcante quanto a garotinha ruiva, símbolo-mor de todos os amores idílicos e nunca concretizados.
Pobre Charlie Brown. Todos nós sentimos compaixão por ele, porque ele simboliza todas as nossas frustrações, inseguranças e fracassos na vida. O que dizer de alguém que não recebeu um cartão sequer no Dia dos Namorados, jamais conseguiu fazer voar uma pipa porque todas enganchavam em alguma árvore, nunca ganhou um jogo de beisebol (e nem chutar as bolas seguradas pela Lucy) e, principalmente, jamais teve coragem para falar com a garotinha ruiva e confessar o seu amor?
Em 21 de março de 2005 postei em meu endereço antigo no Gardenal.org uma tira desenhada por um fã de Bill Watterson que retratava o hipotético momento em que Calvin deixava de ver Hobbes como seu amigo (imaginário ou não), e o tigre tornava-se um mero bicho de pelúcia.
Na época houve uma certa repercussão, mas nada comparado ao que aconteceu quando a tira foi descoberta pelas comunidades no Orkut dedicadas ao personagem. Em uma comunidade de fãs de Calvin & Haroldo, por exemplo, um mero tópico com um link simples para o meu blog recebeu 154 postagens, com direito a um bate-boca dos mais exaltados entre os participantes, que discutiram a validade de uma tira que não havia sido desenhada pelo criador original do personagem. Mais recentemente, o post também acabou indo parar em uma comunidade em inglês, gerando novas discussões acerca de suas possíveis leituras.
Como meus arquivos no Gardenal sumiram, desapareceram, escafederam-se, e junto com eles todos os posts que publiquei em 2005, aproveito a ocasião para republicar aqui o texto original. Em tempo: a tradução da tira que ilustra este post foi feita por Eduardo Couto e publicada em 12 de abril.
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Bill Watterson, provavelmente acometido pela Síndrome de Bartleby, teve publicada sua última tira de Calvin & Haroldo em 31 de dezembro de 1995, e nunca mais publicou um desenho sequer de sua maior criação. Desde então Watterson vive recluso com a esposa em Chagrin Falls, Ohio. Não vai a convenções de quadrinhos, não assina autógrafos, não concede entrevistas e ainda solicitou à Universal Press Syndicate, que distribui mundialmente as tiras de Calvin & Haroldo, para que ela não lhe encaminhasse mais correspondências de fãs.
É inevitável comparar suas atitudes com as tomadas por escritores como J. D. Salinger, Raduan Nassar ou Juan Rulfo, que espontaneamente abdicaram da literatura e foram cuidar de suas próprias vidas; que eles sejam felizes, porque merecem. Quanto à tira publicada ao lado, é preciso dizer que ela não foi desenhada por Bill Watterson. Encontrei-a em uma comunidade de fãs de Calvin, e infelizmente desconheço o seu autor. É, para mim, a mais triste, mas também uma das mais belas tiras que já vi na vida, por toda a riqueza de significados que ela apresenta. Poderia tergiversar horas sobre o universo de Calvin, amigos imaginários, conformismo social ou as asas que desaprendemos a usar. Mas, por ora, limito-me a citar as últimas palavras do último quadrinho desenhado por Watterson:
- “It’s a magical world. Hobbes, ol’ buddy… let’s go exploring!”
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P.S.: Eis um blog brasileiro exclusivamente dedicado à publicação de tiras do personagem: Depósito do Calvin.
Chegou recentemente às bancas a edição nº 221 da revista “Cebolinha”, que traz na capa o anúncio de um novo personagem da Turma da Mônica: Bloguinho, personagem que se comunica com os outros através do “internetês”, aquele dialeto da língua portuguesa recheado de expressões como blz, chat, emoticon e a indefectível risada usada por nove entre dez internautas adolescentes, KKKKKKKKKKK. Uma das intenções dos estúdios Maurício de Sousa com a criação de Bloguinho é utilizar a interface dos quadrinhos para “traduzir” aos leitores a peculiar linguagem usada em chats de Messenger, blogs e fotologs de adolescentes. Admito que necessito de ajuda, afinal de contas como é que existem pessoas capazes de IxCrEvEr kOiZaX dExXe DjEiTuM?
O press-release enviado a respeito do personagem fornece uma estatística estarrecedora: cerca de 7 milhões de usuários já são fluentes nesse tal de “internetês”, esse tal linguajar crivado de expressões como “vc quer tc?“, “sua fotinha tah d++++, mtoooo xow, me adiciona no msn!!!“, ou “lôko o seu blog, naum ker trocar links?“. Continue Lendo
Foi um choque para diversas gerações que acompanham há anos as histórias de Maurício de Sousa. Mas o fato é que a Turma da Mônica Jovem é um mangá de sucesso incontestável, que pode virar série de TV e desenho animado em 3D em 2013, segundo os planos anunciados recentemente.
Mas e a história do beijo na boca entre a garota dentuça e aquele que queria ser o dono da rua? No site oficial da revista, perguntaram ao Maurício: “O Cebola vai namorar com a Mônica?”. Eis a resposta evasiva que ele deu: “Só o tempo dirá. Por isso, o melhor é continuar acompanhando a revista!”. Mas o beijo rolou inegavelmente…
Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.