Artigos da categoria: Comportamento

O livro infantil mais perturbador dos últimos tempos

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 26 de setembro de 2007

Eu até imagino que esta deva ser uma paródia ao clima de paranóia e xenofobia que tomou conta de parcela considerável da população norte-americana, em especial após os atentados de 11/09. Aliás, quero acreditar que esta seja uma paródia. Porque é indisfarçável a sensação de incômodo que tive após ter encontrado esta animação em Flash supostamente voltada a crianças: “Por Que Os Terroristas Querem Me Ferir?”. Este “livro infantil” também já está no YouTube, disponibilizada dentro de um canal intitulado The Official Johnny Freedom Fan Club. Confiram o vídeo e me ajudem a chegar a alguma conclusão.

O autor desta pérola da pedagogia do medo, l, descreve a si mesmo como um bom cristão nascido em 1966 em Dallas, Texas. Conheceu a sua esposa, Vicky, durante uma convenção nacional do Partido Republicano. Abalado pelos atentados de setembro de 2001, Archibald teria se convencido de que era necessário “proteger” as crianças dos Estados Unidos das ameaças contemporâneas, e começou a criar uma série de livros com a intenção de passar a elas os “bons e velhos valores americanos”. Sua primeira obra, datada de 2003, foi esta: “A Bíblia Diz: Garotos Usam Calças, Garotas Usam Vestidos”.

Outra obra deste cidadão com nome de oficial britânico é esta: “Fronteira Fora da Ordem”. Um trabalho que, se tivesse sido escrito por um francês, certamente teria sido aprovado por Jean-Marie Le Pen.

Até agora não cheguei à conclusão se Archibald Campbell é um doido varrido ou um satirista talentoso. Mas, neste mundo superpovoado por analfabetos funcionais, não posso deixar de pensar que, neste mundo no qual um presidente com cara de modelo da Mad como é George W. Bush foi eleito para exercer dois mandatos graças ao voto popular, há muitas piadas que são levadas a sério até demais.

Quando eu era criança, eu acreditava em…

Por Alexandre Inagakiquarta-feira, 19 de setembro de 2007

Se “tudo que é sólido desmancha no ar”, como diziam Marx (não o Groucho) e Engels, o que dizer da Internet, esta interface efêmera por natureza? Um exemplo: ainda guardo em meu winchester um arquivo com meu bookmark de 1998, gerado pelo Netscape, na época o navegador utilizado por cerca de 70% dos internautas. Hoje em dia quantos o utilizam? E quantos ainda têm o costume de salvar páginas de Web, nestes tempos de Delicious e StumbleUpon?

Embora não seja prática recorrente, devo dizer que foi bom ter feito backup de alguns sites que não deixaram nenhum resquício digital de sua existência, nem no cache do Google, nem no Internet Archive. Web é um cemitério sem ossos, implacável com o volátil legado virtual de sites que saiam do ar. Continue Lendo

Há seis anos

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 11 de setembro de 2007

Photo Sharing and Video Hosting at Photobucket

Há seis anos eu estava em casa, ainda digerindo o café da manhã, quando vi uma manchete na página inicial do UOL: “Avião choca-se com o World Trade Center”. Na hora sequer cogitei que aquela ocorrência fosse das mais sérias; a imagem que me veio à cabeça foi de um aeroleve ou teco-teco se chocando contra o prédio. A ficha só veio a cair, junto com as possíveis dimensões daquela manchete, quando, minutos depois, surgiu uma nova nota no portal informando que outro avião havia acabado de atingir as torres do WTC. Liguei a televisão: na Globo, Carlos Nascimento fazia ao vivo a locução das cenas que aparentavam anunciar o início da Terceira Guerra Mundial.

O origami da nota de 20 dólares.Ainda não pensava em criar um blog. Na época, eu era editor de um fanzine que era distribuído semanalmente por e-mail a mais de 2 mil assinantes, o SpamZine. Enquanto assistia às cenas quase inverossímeis que eram exibidas na TV, redigi uma breve nota que incluí, de última hora, na edição daquela semana. Ei-la:

O ataque a Pearl Harbor, o assassinato de Kennedy, a derrota no Vietnã geraram inúmeras produções hollywoodianas que buscaram dissecar momentos históricos em que os Estados Unidos mostraram-se frágeis, vulneráveis feito qualquer paiseco de Terceiro Mundo. Mas nada, realmente nada se compara às cenas que estou vendo agora: o Pentágono e as torres do World Trade Center (acabaram de desabar!) em chamas. Simplesmente o centro militar e o financeiro da mais poderosa nação do mundo foram atacados. Clube da Luta, Duro de Matar, Força Aérea 1, Independence Day, Nova Iorque Sitiada, toda ficção virou fichinha diante do que está acontecendo. Estou atônito, estupefato, perplexo. Quem me dera isso fosse outro trote do Orson Welles. Temo pelas retaliações que serão feitas pelo bananão do Bush Júnior depois disso tudo.

Photo Sharing and Video Hosting at PhotobucketNo dia seguinte começaram a pipocar e-mails com teorias mirabolantes. Dentre outras coisas, as mensagens falavam em notas de 20 dólares com dons de Mãe Dinah, uma profecia ligada à fonte Wingdings que teria antecipado tipograficamente os atentados e até o rosto de Louis Cypher que teria surgido em meio à fumaça nas torres gêmeas. Mas a “melhor” de todas as histórias foi, sem dúvida nenhuma, da fotografia de um turista que teria captado o momento em que um dos Boeings aproximava-se do World Trade Center: nascia a pitoresca lenda urbana do Tourist Guy.

Repito aqui a pergunta de hoje no Twitter (link via Interney): o que você fazia há seis anos?

* * * * *

P.S.: Encontrei a foto acima, uma singela versão de escritório para o atentado de 11 de setembro de 2001, no blog Nyra Angel.

Fama infame e a bunda esquizofrênica de Íris Stefanelli

Por Alexandre Inagakiquinta-feira, 26 de julho de 2007

Não deveria haver alguma espécie de mérito para uma pessoa que é contemplada com os holofotes midiáticos? Compor como Lennon, escrever como Cortázar, pintar como Picasso ou ter capacidade de liderança feito Gandhi ou Churchill? Necas de pitibiriba. Na escancarada democracia da fama, há espaço para qualquer um. As fronteiras entre fama e infâmia, cada vez mais tênues, tornam atualíssima a frase pronunciada em um filme de Woody Allen sobre o tema: “Você conhece uma sociedade pelas celebridades que ela cria”.

* * * * *

Iris Stefanelli, a Siri do BBB 7, na revista PlayboyMeu atento colega Nicholas Name fez uma interessantíssima constatação, enquanto navegava por aí. Eis o que diz uma nota do site Ego, a respeito do ensaio de Íris, ex-participante do Big Brother Brasil e futura capa da revista Playboy: “As fotos de Iris Stefanelli nua fizeram a redação parar. Quando o ensaio com ela foi exibido nos computadores da equipe que cuida da arte da revista, o bumbum de Siri impressionou jornalistas e designers”. Kika Paulon, uma das produtoras da Playboy, arrematou: “Não tem uma celulite. A redação ficou impressionada. Teve até gente que achou que haviam tratado a foto no photoshop. Mas não! As fotos dela vão ser zero de photoshop. Ela é perfeita”.

No entanto, comparem essa nota com o que o blog Retratos da Vida, do jornal Extra, afirma: “A Playboy de Íris Stefanelli está dando o maior trabalho. A dose de photoshop usada nas imagens é bem maior do que os profissionais de tratamento estão acostumados por lá. Em muitas fotos, as pernas, o bumbum e a barriga precisaram de um belo retoque”. Em qual das notícias nós, céticos calejados, deveremos botar mais fé?

Em meio a notas desencontradas, é interessante recordar o que a ex-namorada do Alemão afirmou em 26 de abril à Folha Online, a respeito da então hipótese de um dia topar posar sem roupas para uma revista masculina: “Surgiram dois convites. Mas tava muito triste, porque não é o que eu quero pra mim. Eu não queria ir para esse lado. Eu tenho vergonha. Queria primeiro conquistar uma carreira. Mostrar que sou capaz de conseguir dinheiro por outro meio”. De fato Íris deve ter ficado abatida, a ponto de ter sido flagrada outro dia furando a fila de uma conhecida padaria 24 horas em São Paulo. Percalços da fama, por certo.

* * * * *

Mas o que estranhar, em tempos nos quais revistas como a People desembolsam até US$ 4,1 milhões pelo direito de exibir, em primeira mão, as primeiras fotos da filha do casal Angelina Jolie e Brad Pitt, como mostra esta matéria do Jornal da Tarde sobre as fotografias de celebridades mais caras da história?

Creio que não tardará a vir o tempo em que casamentos de personalidades serão exibidos em boletins extraordinários, com direito a musiquinha do plantão da Globo (o tema mais urucubaca de todos os tempos) e helicóptero do Gugu gerando imagens comentadas por Sonia Abraão e Leão Lobo (“o vestido de noiva de Sandy foi desenhado por Ronaldo Ésper, uma loucuuuuuura”). Nesse mesmo dia, os Quatro Cavaleiros do Apocalipse descerão à Terra semeando a fome e a destruição. José Luiz Datena comandará a transmissão ao vivo com imagens da CNN.

Publicitários da paixão

Por Alexandre Inagakisegunda-feira, 05 de março de 2007

Atire o primeiro mouse quem nunca se cadastrou em algum site de relacionamentos pessoais, do tipo Almas Gêmeas ou Par Perfeito. Não vou negar que já criei cadastros neles, até porque não tenho do que me queixar: encontrei muitas mulheres interessantes nessas páginas e inclusive namorei duas delas. E, embora soe a desfaçatez dizer que motivos antropológicos também me levavam a navegar por essas páginas, posso afirmar que havia, sim, um motivo adicional para visitá-las: compilar as melhores tiradas nonsense dentre as apresentações de cada usuário.

Como você bem sabe (confesse aí, vai), todo site de relacionamentos pede, durante o preenchimento de um perfil, que cada “candidato” escreva uma frase chamativa a fim de chamar a atenção dos outros flanêurs virtuais. Ou seja: você é desafiado a resumir, dentro de um limitado número de caracteres, por que fulana deveria visitar o seu perfil em vez dos outros 893.577 internautas cadastrados. E dá-lhe lábia, wit, poder de síntese e uma certa simbiose entre Don Juan e Washington Olivetto, para que cada incauto consiga se destacar em meio à multidão.

Na maioria das vezes pessoas usam como frase de apresentação variantes de clichês como “clique aqui, você não vai se arrepender“, ou “sou bonito, inteligente e modesto, hihihi“. Mas sempre há quem consiga esquivar-se das mesmices habituais. Estes são alguns dos slogans mais espirituosos, canalhas, bregas e/ou chamativos que encontrei em minhas pregressas navegações:

- Não tenho chulé nem frieiras. Escreva pra mim.

- Minha foto está ruim. PREPARE-SE PARA SURPREENDER-SE!

- Sendo modéstia o meu forte, você nem imagina o que te espera de melhor!

- Oportunidade única: conheça um homem que odeia futebol.

- Você quer ir às Casas Bahia comigo?

- A primeira impressão é que fica, e eu sei que você vai ter boa impressão.

- Tenho uma vantagem em relação aos outros: sou tão feio que vocês não precisam ter ciúmes.

- Sucesso é legal, mas felicidade é muito melhor.

- Quer ser mordida? Fale comigo.

E você? Que frase você escreveria (ou já escreveu) para se auto-promover numa dessas páginas?

Como Fazer Amigos e Influenciar Homens de Marte, Mulheres de Alpha Centauri e Chorões às Margens do Rio Piedra (ou: Seja Feliz e Ajuda-te a Ti Mesmo Sozinho e Sem Ajuda de Ninguém, Mexendo no Queijo Alheio de Acordo com os Princípios do Feng Shui)

Por Alexandre Inagakidomingo, 25 de fevereiro de 2007

Como escrever um livro e enriquecer tapeando incautos.Vida tem manual de instruções? Consumidores de livros de autoajuda parecem acreditar que sim, dando vazão à publicação de obras que fazem promessas mais mirabolantes do que as veiculadas em propagandas eleitorais gratuitas. Por exemplo? “Como Ficar Rico“. Melhor que o título singelo desta obra, só mesmo o nome da editora que o publica: Academia de Inteligência (mesmo porque burros são os leitores que acreditam num conto de vigário desses). Outra pérola: “Como Fazer Qualquer Pessoa se Apaixonar Por Você“. Segundo a sinopse do livro, sua autora, a Dra. Leil Lowndes, “mostra que é possível aprender o momento certo de se fazer de difícil, quanto se deve esperar para um convite, como deixar uma primeira impressão inesquecível, preencher os desejos sexuais do parceiro ou como alimentar a menor centelha de atração para transformá-la em uma paixão avassaladora“. Com o perdão da má expressão: ahhh, doutora filha da mãe essa que atiça pessoas a armarem esses malditos joguinhos! Continue Lendo

Minha vida secreta de redator de perfis do Orkut

Por Alexandre Inagakiterça-feira, 06 de fevereiro de 2007

Meu frila não-remunerado de redator do Orkut dos outros.

Recebi há alguns dias um e-mail de minha amiga Andréa Augusto a respeito de um assunto desagradavelmente familiar para mim: apropriação de textos. Escreveu Andréa: “Acontece que o meu ‘about you’ do Orkut tem sido copiado a rodo e colocado em diversos profiles. Sem autoria, claro, e muitas vezes assinado pelos donos dos profiles. Uma loucura. Não tem absolutamente nada de mais no texto, que aliás escrevi ali mesmo antes de salvar. (…) É como se a pessoa fosse oca e precisasse se apropriar do conteúdo de outra, sei lá. Já tive poemas, textos e até simples comentários em livros de assinaturas copiados, roubados, essas coisas, mas um ‘about you’, pra mim, é incrível, sei lá, acho bizarro, entende?

Que o mundo é estranho, isso é fato líquido e certo. Eu, que já cansei de encontrar textos meus surrupiados por aí, não me espanto com essas ocorrências. Se você achar, portanto, um texto iniciado com a sentença “Dual, sou assim; misturo meus anjos ao lado obscuro, vou fundo e me retraio“, saiba que ele foi redigido originalmente no perfil do Orkut de Andréa Augusto, e que esse texto foi copiado tantas vezes que ela se viu obrigada a registrá-lo na Biblioteca Nacional a fim de resguardar seus direitos como autora. Continue Lendo

  1. « Página anterior
  2. Próxima página »
  3. 1
  4. 2
  5. 3
  6. 4
  7. 5
  8. 6
  9. 7
  10. 8
Pense Nisso! Alexandre Inagaki

Alexandre Inagaki é jornalista e consultor de comunicação em mídias digitais. É japaraguaio, cínico cênico. torcedor do Guarani Futebol Clube e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos. Já plantou semente de feijão em algodão, criou um tamagotchi (que acabou morrendo de fome) e mantém este blog. Luta para ser considerado mais do que um rosto bonitinho e não leva a sério pessoas que falam de si mesmas na terceira pessoa.

Parceiros

Mantra

A vida é boa e cheia de possibilidades.
A vida é boa e cheia de possibilidades.
A vida é boa e cheia de possibilidades.