Dez aberturas marcantes de novelas
Por Alexandre Inagaki ≈ domingo, 06 de agosto de 2006
Brilhante - Sua bela abertura exibe uma modelo e um gato sendo refletidos ad infinitum por um cenário de espelhos. Contudo, inesquecível mesmo é o seu tema musical, feito por encomenda por ninguém menos que Antônio Carlos Jobim: “Luiza”, canção cujo título ganhou o mesmo nome da personagem principal da novela, interpretada por Vera Fischer. Eu, que na época ainda conhecia pouco de bossa nova, tomei conhecimento da obra de mestre Tom graças a esta novela de Gilberto Braga, exibida de setembro de 81 a março de 82. Mas confesso que “Luiza” ainda é a minha música predileta do maestro, com sua precisa combinação entre letra e melodia.
Final Feliz - Muito antes daquela seqüência antológica que encerra Cinema Paradiso, a abertura desta novela de Ivani Ribeiro (veiculada de novembro de 82 a junho de 83) já havia compilado dezenas de beijos inesquecíveis do cinema, com cenas de filmes como Casablanca, A Um Passo da Eternidade e A Primeira Noite de um Homem. Destaque também para a deliciosa música-tema: “Flagra”, de Rita Lee, com seus trocadilhos cinematográficos (“Se a Deborah Kerr que o Gregory Peck/ Não vou bancar o santinho“).
Dancin’ Days - Esta é, certamente, uma das melhores aberturas de novelas de todos os tempos. Concebida por Rudi Böhm e Hans Donner, ilustra com perfeição o tema musical, composto por Nelson Motta e Ruban Barra e interpretado pelas Frenéticas. A criativa utilização de fotos animadas, que retratam habitués das discotecas, e o uso preciso das tipografias, que emulam letreiros de neon, parecem encapsular o espírito daqueles tempos (a novela, de Gilberto Braga, foi exibida de julho de 78 a janeiro de 79) em uma abertura que só parece envelhecida por causa das roupas e penteados típicos da era disco.
Champagne - Há dois motivos para que a abertura desta novela de Cassiano Gabus Mendes, exibida entre outubro de 83 e maio de 84, ficasse guardada em minha memória. A primeira é a beleza da modelo que aparecia no vídeo, uma das primeiras musas platônicas deste garoto que na época tinha dez anos de idade. E a segunda é o tema de abertura, “Casanova”, interpretada por Ritchie, que em 83 estava no auge de sua carreira, tendo vendido 1,2 milhão de cópias de seu álbum de estréia, Vôo de Coração.
Transas e Caretas - Mais do que qualidade, o que me fez incluir esta singela abertura nesta lista foram os efeitos especiais pra lá de toscos, o merchandising do videogame Atari 2600, os cenários inspirados no filme Tron e o tema musical interpretado pelo Trio Los Angeles. No mínimo, posso dizer que foi uma abertura adequada para esta novela de Lauro César Muniz que, veiculada de janeiro a julho de 84, tinha como um de seus personagens principais um mordomo robô (!!!) chamado Alcides.
Feijão Maravilha - Um chef e suas assistentes, diminutas feito personagens das Viagens de Gulliver, fazem peripécias com os ingredientes de uma feijoada em uma mesa de cozinha. Com música das Frenéticas e clima de cartoon, este é um dos mais felizes exemplos de vinhetas globais dos tempos pré-Hans Donner. A novela, escrita por Bráulio “Beto Rockfeller” Pedroso, foi exibida de março a agosto de 79.
Sem Lenço, Sem Documento - Pra falar a verdade, eu nunca tinha visto esta abertura até vasculhar o YouTube. Pudera: na época em que esta novela de Mário Prata foi ao ar (setembro de 77 a março de 78) eu ainda nem assistia televisão (bons tempos, dirão alguns). O que mais me chamou a atenção foi a maneira criativa como a abertura recria a linguagem das fotonovelas, muito populares nos anos 70. Que o diga minha mãe, que possuía dezenas de exemplares de revistas como “Sétimo Céu”, folheadas em minhas tardes ociosas da infância. O tema musical, “Alegria, Alegria” de Caetano Veloso, seria reaproveitado anos depois em outra abertura da Globo: a minissérie Anos Rebeldes (92), de Gilberto Braga e Sérgio Marques.
Pecado Capital - A abertura, que exibe dezenas de notas de 100 cruzeiros voando, é simples e objetiva, ilustrando a sinopse desta novela em que Janete Clair narrou (de novembro de 75 a junho de 76) a história de um motorista de táxi que vê uma maleta repleta de dinheiro ser esquecida em seu carro durante um assalto de banco. Mas o real motivo pelo qual incluí a abertura de Pecado Capital nesta lista é a antológica canção homônima que Paulinho da Viola compôs especialmente para a novela, melhor conhecida por seus versos iniciais: “dinheiro na mão é vendaval“. No remake que Glória Perez escreveu para a Globo, em 1998, a mesma música foi reaproveitada para a novela em uma regravação extremamente inferior cometida pelo grupo Só Pra Contrariar.
Kananga do Japão - Um casal baila fazendo uma viagem do tempo, tendo como pano de fundo imagens que ilustram inúmeros momentos da História do Brasil, como o período da escravidão, a Revolução Constitucionalista e os antigos carnavais de rua. Belíssima abertura para esta novela de Wilson Aguiar Filho, exibida de julho de 89 a março de 90 pela finada Rede Manchete. A música-tema, “Minha”, foi composta por Francis Hime e Ruy Guerra e interpretada por Misty.
Tieta - A abertura desta novela de Aguinaldo Silva, no ar entre agosto de 89 e março de 90, fez grande sucesso por dois motivos: a nudez de Isadora Ribeiro e os efeitos especiais que distorciam pedras e árvores até transformarem-se no corpo da modelo. Isadora, que naquela época era esposa de Hans Donner, “coincidentemente” responsável pelo vídeo, havia aparecido anteriormente em uma abertura do Fantástico, e faria ainda uma ponta no último capítulo de Tieta como uma amante do personagem de Armando Bogus. A abertura, realizada com efeitos especiais oriundos da técnica slit-scan, foi tremendamente inspirada (para não dizer que foi plágio) pelo vídeo The Fourth Dimension de Zbig Rybczynski. Curiosidade: a música-tema, cantada por Luiz Caldas, teve sua letra composta por Boni, que na época era o vice-presidente da Rede Globo. A julgar por seus versos de paquidérmica sutileza (“Tieta do agreste/ Lua cheia de tesão/ É lua, estrela, nuvem carregada de paixão“), menos mal que ele não seguiu carreira de compositor.
P.S. 1: Fontes preciosas para a elaboração deste post: o excelente site Teledramaturgia, idealizado e mantido por Nilson Xavier, e as comunidades do Orkut Memória da TV e Amo Aberturas de Novela.
P.S. 2: Este é o primeiro de uma série de posts que publicarei compartilhando minhas melhores descobertas no YouTube, para mim a melhor criação da Internet desde o saudoso Audiogalaxy.
P.S. 3: Não encontrei as aberturas de Ti Ti Ti, Sinal de Alerta (que marcou época ao usar sons da cidade como trilha sonora em vez de um tema musical) e Tudo em Cima (minissérie da Rede Manchete cuja música-tema era interpretada por Eduardo Dusek). Agradeço a quem conseguir disponibilizar vídeos das mesmas.
Alexandre Inagaki
Alexandre Inagaki é jornalista, consultor de projetos de comunicação digital, japaraguaio, cínico cênico, poeta bissexto, air drummer, fã de Cortázar, Cabral, Mizoguchi, Gaiman e Hitchcock, torcedor do Guarani Futebol Clube, leonino e futuro fundador do Clube dos Procrastinadores Anônimos, não necessariamente nesta ordem.
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